Duca Charcutaria Harmoniza

Entrar na charcutaria do Yuli é como cruzar um portal; você se transporta à um patamar onde o que se sabe sobre cura e processos de fabricação de carnes vira de cabeça para baixo. Tudo nela é feito de forma artesanal, sem produtos químicos e respeitando o tempo de amadurecimento do que se come e bebe. Também é um caso de amor, porque sua esposa Adriana e sua mãe Yoná marcam presença, cozinhando, contando histórias e colocando entusiasmo em cada pedacinho deste trabalho.
Para abordar de forma completa, seria necessário uma tese. Então, concentremos atenção aqui na degustação desta noite maravilhosa. À começar pelo welcome drink probiótico fermentado de frutas. Gaseificado e altamente digestivo, o tira gosto ideal para preparar o que viria: um roteiro dividido em blocos, que eu chamaria viagem sensorial de prazeres.Primeiro bloco, pães em três etapas: Um, Bruschettas de pão da casa com mix de farinhas, caponata de berinjela, passas e maçã; adocicada e equilibrada, o azeite de oliva fora acrescido depois, para não saturar a gordura, conferindo um sabor delicado e especial. Dois, Bruschettas de tomate com lâmina de Lardo – gordura das costas do porco prensada com especiarias – maçaricada para escorrer seu sabor sobre o conjunto. Três, pão com terrine de salame de fígado, temperado com conhaque e especiarias. Neste, pimenta bem ajustada, picante na medida. O primeiro bloco foi harmonizado com o Vinho Pata Negra, refrescante e leve, o Tempranillo da região de Rioja, na Espanha, foi a pedida ideal para fazer o duo com cada uma destas três etapas.

Agora, repare neste Tannat uruguaio reserva familiar; 80% sem envelhecimento, e o restante passando por seis meses de carvalho. Nariz muito fresco e frutado, lembrando compota de ameixas, no palato, característica sutilmente adocicada e licorosa. Vinho perfeito para harmonizar com o segundo bloco de degustações que começou com tartar de miolo de alcatra Red Angus.Esta parte foi ridícula! Yuli fez o tartar em frente à todos com gemas, páprica, pimenta e tempero verde, um verdadeiro espetáculo. Salientando que nenhuma especiaria foi acrescida em demasia, pois a estrela é a carne. Com essa orquestra em forma de tartar, o tannat que era muito bom, aflorou em seu esplendor. Foi a melhor experiência com essa casta de uvas que já tive!Seguimos com hambúrguer de costela, feito de entrecot e peito de angus, envolto em pão caseiro de leite e ovos, maionese, queijo e cebola caramelizada com cerveja preta. Estava uma delícia, destaque para a cebola com cerveja, adocicada e excêntrica. Gostosura fácil de comer, tudo saboroso demais.Na sequência, linguiça de paleta e pernil temperada com vinho branco, acompanhada de vinagrete de cebola ao estilo peruano, com notável pimenta. Estava ardidinha e refrescante. Uma delícia.Para começar o terceiro bloco: Ostra aberta no vapor do vinho branco, gratinada com parmesão e coberta com bochecha de porco curada durante setenta dias. Sabores fortes, fruto do mar fresco e suculento, aromatizado magistralmente com o vinho. O queijo e a bochecha conferiram sabores super marcantes e prolongados, harmonizando com Malbec Argentino Alfredo Roca.
Seguimos, ainda no terceiro bloco, com esta massa feita pelo Yuli, de semolina e ovos. Servida ao molho carbonara, o qual ele comentou o passo a passo: composto da bochecha do porco frita, misturada na água do macarrão, vinho branco, gema de ovos e grana padano. Nhami.No quarto bloco eu já estava pedindo arrego, mas começaram as comparações entre carnes e seus processos de maturação. Essa brincadeira foi harmonizada com um vinho catarinense safra 2008, de uvas Cabernet e Merlot, clássico corte bordalês. Bastante aveludado e com a característica típica de acidez pronunciada dos vinhos locais. Licoroso e adocicado, estava no ponto depois de dez anos de colheita e duas horas de decantação!E então abriram os trabalhos com rosbife, bresaola, picanha suína e copa, com geleias de maçã com pimenta, uva cabernet, tangerina e sardela. A brincadeira era fazer as misturas que mais agradassem seu paladar, bebericando o vinho para ter suas experiências e impressões únicas.O quinto e derradeiro bloco começou com a abertura do presunto de sete meses de cura, selado em banha e cera de abelha. Comparamos com outras quatro iguarias da charcutaria Duca: Pata Negra, paleta, pernil e peito de pato. Cada qual com seus sabores e texturas, alguns mais molhadinhos, ora defumado, ou mais salgado, ora, mais temperado. As explicações técnicas de cada bocadinho que experimentamos são uma verdadeira aula de amor ao processo de fabricação. Yuli comenta e explica da forma mais entusiasmada do mundo. Não há como não se encantar.

Como se não bastasse, ao final, dona Yoná (mãe do Yuli) nos agraciou com suas deleitosas sobremesas: Doce de laranja com casca acompanhada de delicado creme, geleia de laranjinha quinkã com brigadeiro de nozes. A segunda, mais doce no brigadeiro e mais suave na compota. Já a feita de laranja pêra era acompanhada de um creme mais suave, o que me agradou mais, pois eu não sou o brasileiro típico, aquele que gosta de sobremesas muito doces. E para não dormirmos na volta, provamos um café mineiro espetacular, que foi embebido em Brandy e torrado na hora pelo Otávio! Uma criação única da marca Grãos do Brasil, que tem loja no Continente Park Shopping. Isso foi demais da conta para mim, justamente porque eu costumo colocar a bebida no meu café quando fumo meus charutinhos.Depois de tanto, não tenho mais muito à declarar, deixarei apenas o endereço e os contatos da Duca Charcutaria, porque não conhecer esse paraíso é um pecado, uma verdadeira heresia.
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