Opinião Própria

“As pessoas não têm opinião própria”, foi o que me dissera em uma roda de amigos. A vontade de argumentar foi maior que a clareza das ideias. Tentei em vão expressar meu sentimento, que, como na maioria das vezes, veio somente horas depois. O pensamento é assim, escutamos, analisamos, assimilamos, e conseguimos formular uma boa ideia como resultado de bastante reflexão. Salvo alguns criativos e comediantes, que tem sacadas rápidas como um raio.


“Sem Nome” – personagem do filme Herói (2002) empreendendo uma saga solitária para afirmar sua opinião

Em verdade, acredito que todo indivíduo tem opinião própria; cada qual tem a sua, independentemente de ela ser influenciada por outrem. Ou seja, toda opinião é própria.


Debater, discutir, argumentar, lutar, jogar

Compreendo o que fora dito naquele momento, entretanto, epistemologicamente, a sentença não foi clara, não fez sentido. Justamente pelo fato de opinião ser algo pessoal e intransferível. Creio sim que há muita desinformação nos tempos de internet, como também abundância de informações, obviamente. Isso não necessariamente trouxe (ainda) o que almejo: a evolução da humanidade, nossa melhora significativa como sociedade, cuidado e respeito pela natureza e por nossos semelhantes. Somos influenciados por pensamentos alheios muitas vezes, mas a opinião é de cada um, tenha sofrido ação psicológica alheia, ou não.

Os personagens “Neve Voadora” e “Espada Quebrada”, unidos pela causa, separados por suas crenças


A belíssima fotografia deste filme foi estudada em muitas escolas de filosofia e arte ao redor do mundo.

Outro conceito que foi desmaterializado bem diante dos meus olhos foi a “conscientização”. Há anos eu vinha falando de forma convicta que nós, seres humanos que percebemos como a natureza é rara e frágil, temos o dever de “conscientizar” os outros. A pessoa que pacientemente me ouvia, do alto de sua sabedoria, disse: “Ninguém conscientiza alguém. Conscientização é algo que não existe. O que podemos fazer é aumentar a percepção do outro falando sobre o assunto, mas a consciência não vem de fora, ela nasce e cresce dentro de cada um de nós”. Daquele dia em diante, nunca mais pronunciei a palavra “conscientização”, a não ser para contar essa história.

Essa minha relação com as “versões da verdade” começou a se fragmentar em dois episódios. A arte tem esse poder, especialmente a sétima, desmaterializar conceitos. O filme Rashomon (1950), do diretor japonês Akira Kurosawa, foi a primeira machadada no conceito “verdade”. Depois, o golpe final veio com o filme chinês Herói (2002). Em ambos fica claro que a “verdade” muda de acordo com a experiência de cada um. Os personagens têm “certeza” de que suas visões são corretas e irretorquíveis. Entretanto, apenas quando conseguem ver o ponto de vista alheio é que realizam o quanto estavam equivocados.


Uma opinião pode dividir amigos, você está preparado para deixar o orgulho de lado ou ficará sozinho?

Depois de um tempo passei a não crer em “verdades”. A Verdade é apenas uma, é o Universo acontecendo. O que alguém me disser, ainda que o sujeito acredite como sendo verdade, não passa de sua opinião; a forma como enxerga, analisa e expõe suas percepções, seu ponto de vista. Não acredito mais que algum ser humano saiba o que seja a verdade. O que realmente creio é que somos muito limitados para afirmar qualquer coisa. Pessoas com “certezas” me dão calafrios, elas são tão convictas de seus conceitos que esquecem de perceber, e principalmente respeitar, as outras vidas que acontecem a sua volta.
“Como as pessoas podem se comunicar, se não conseguem compreender umas às outras?” (Herói 2002)

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